terça-feira, 13 de novembro de 2012


Pirilau ao vento, o rapaz corria pela praia deserta. Mergulhava entre as algas e perseguia os peixes até às suas tocas. Depois deitava-se na areia e deliciava-se com o calor do sol que lhe afagava a pele. O cheiro a maresia, que lhe fazia cócegas no nariz, e o grasnar das gaivotas misturado com o suave embalar da rebentação, deixavam-no numa espécie de transe do qual só acordava quando ouvia o seu pai que o chamava, lá do fundo da praia. Às vezes também subia às montanhas, caminhava entre bosques fantásticos e nadava em lagoas de água fria e cristalina. Observava tudo com muita atenção e, deitado à sombra de carvalhos centenários, imaginava aventuras fantásticas.

                 A perguntas estranhas sobre a possibilidade de coisas impossíveis, já estava a sua mãe habituada, no entanto, sendo os livros a sua profissão, ela nunca desarmava, inventando respostas onde o real e o imaginário se conjugavam num mundo – que é o da literatura – em que tudo ficava muito bem explicado (ou não, se fosse esse o caso). Também ele desde cedo leu muito: primeiro as bandas desenhadas e romances de ficção científica que a mãe lhe trazia da biblioteca; mais tarde outras coisas, que aprendeu a seleccionar de acordo com o que lhe ditava a disposição. A música também lhe enchia as medidas; o seu pai, estudioso autodidacta e excêntrico que nunca reparou muito nele, coleccionava discos de música tradicional de todos os povos do mundo, e por tal facto os seus ouvidos eram frequentemente invadidos por sons estranhos que muito o entusiasmavam. Entre os amigos, sem ser propriamente um estranho, era tido por ser um pouco maluco, talvez por cultivar gostos que não se ficavam propriamente pelo futebol ou pelos carros de corrida.

                 Depois veio o 25 de Abril e, de repente o mundo abriu-se como mais um livro. Houve as batalhas campais nos polivalentes do liceu e os deambulares até de madrugada pelas ruas da cidade em conversas sobre tantas coisas que agora, mais do que nunca, se podiam descobrir.

                Mas a curiosidade era muita e ele tinha que ir ver lá, aos lugares de onde essas coisas vinham. Mochila às costas e polegar ao alto, lá foi ele à aventura. Às vezes sozinho, outras acompanhado, correu o mundo absorvendo tudo com uma urgência que a idade ditava e a oportunidade aguçava. Fez dessas viagens um modo de vida: partia na Primavera, fazia o ciclo das colheitas, que ia intercalando com temporadas de estadias em cidades e regiões que ainda não conhecia, e regressava para passar o Inverno com a família que, apesar de alguma preocupação compreensível, nunca lhe impôs o que quer que fosse.

                Como seria de esperar, chegou o dia em que se cansou e achou que o melhor era voltar à escola e estudar algo que futuramente pudesse aplicar numa profissão. Não sabia muito bem o que fazer e, farto da cidade e das pancadarias de liceu, resolveu estudar agricultura. Mas, apesar do seu amor pela natureza, nunca conseguiu fazer profissão nos campos e passou mais uns anos a experimentar aquilo que ia aparecendo, como emprego. Como sempre gostara de conduzir, foi camionista, foi também operário, lavador de copos em discotecas, empregado de armazém, e outras coisas que apesar de não serem propriamente muito interessantes, lhe foram mostrando diferentes maneiras encarar o mundo; não só as que as diferentes actividades lhe impunham, mas também aquelas que ia observando nas pessoas que o rodeavam. De experiência em experiência, lá foi encontrando um modo de ir fazendo coisas que lhe deixassem sempre um espaço para si; para ler, pensar, passear, sonhar e fazer coisas que realmente lhe agradavam e que, como tal, nunca concebera fazer como profissão; para ele, a vida sem isso não fazia sentido.

                Sempre sem planear à partida o futuro, adaptou-se com uma grande facilidade àquilo que os dias lhe foram trazendo. Nunca sentiu a ambição de se tornar exemplar no que quer que fosse. Valorizou mais que tudo o sentir-se bem consigo e com os outros, e cultivar uma curiosidade interessada por tudo em geral. Conversar sobre tudo, sem preconceitos ou subterfúgios, era outro dos seus prazeres; pena que com o tempo, e talvez com a progressiva falta dele, que cada vez mais se foi impondo, as oportunidades de o fazer fossem escasseando.

 

***

 

Acabou por ter alguma estabilidade económica, ter filhos, casar e levar uma vida um pouco mais rotineira do que desejaria. Nunca se arrependeu de nada daquilo que, de mal ou bem, fez. Hoje em dia, esforça-se ao máximo por ser sincero, honesto e coerente, num mundo cada vez mais absurdo e desorientado, também se sente cada vez mais só e inadaptado, não encontrando quem entenda lá muito bem a sua sinceridade, sem pensar, por vezes até, que algo perverso se esconde por detrás dela; como se a vida se tivesse transformado numa telenovela ou série americana, onde os mal-entendidos são o motor da acção e ninguém age sem segundas intenções. No entanto, há algo que lhe continua a dar imenso prazer e que, felizmente, ainda vai podendo fazer; pelo menos enquanto o deixarem: continuar a ser aquele rapaz livre, a correr pela praia de pirilau ao vento.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Agora que ela já parece ter ido embora...
 Uma conversa com o vento (deviam experimentar; é muito esclarecedor e saudável)
Música instrumental tocada com mestria e sensibilidade

quinta-feira, 10 de maio de 2012

... ou então baladas nostágicas mas belas (para quem gosta, claro!)
 Estes também são britânicos mas, se bem que as músicas também sejam de origem tradicional irlandesa, sempre gostaram de um som mais eléctrico.
 Música Irlandesa tocada por irlandeses

Water of Life

Water of Life
Onde tudo começou

...depois de tanto tempo, a cereja em cima do bolo(cake)...

Tuxedomoon, banda de músicos americanos a viver na Bélgica. Ora ouçam esta música estranha...

Yo Yo Ma toca Johan Sebastian Bach: E esta? Que tal?...

Olha agora esta banda (Dandy Warhols) a tocar ao vivo uma que tu deves conhecer

E esta (Scissor sisters), conheces?...

Esta banda todos conhecem... e vocês também?

E esta de um grupo chamado Beatles, a mais conhecida banda Pop de todos os tempos?

e vai mais uma...

E agora esta versão de um menino japonês.

"uma pequena grande coisa"...